sexta-feira, 25 de maio de 2012

The Fiddler on the Roof



Panelão de Gulasch na minha frente, fogo baixo durante três a quatro horas, conteúdo levemente borbulhante, sem conter uma gota de água de torneira sequer, espalhando o cheiro gostoso por toda vizinhança. Enquanto a carne bovina não fica macia ao ponto de poder cortá-la com a colher, meus pensamentos viajam.

Diante dos olhos de minha memória desfilam instrumentistas de ontem, violino preso entre o queixo e a clavícula, as feições expressando sofrimento ou alegria, a depender da melodia sendo tocada. Um festival de caras e bocas, que já não existe mais! Os músicos de hoje executam o conteúdo das partituras com perfeição e sem mexer um só músculo da face... mesmo durante as passagens mais difíceis, rajada de notas mais curtas e sons agudíssimos.

É assim que vejo a culinária da atualidade! Técnica perfeita, cozimento dos alimentos em temperaturas controladíssimas, preocupações com o estado das proteinas, das fibras do colágeno. Desse modo uma carne, sendo "cozida" a 74,6graus centígrados leva quatorze horas e meia para ficar perfeita... e já me disseram que o ovo frito corretamente demora duas horas a uma temperatura de 62graus.

Acho louvável esse avanço tecnológico, mas será que isso tudo é viável num restaurante? E as demais produções culinárias? As que devem acompanhar aquela carne tratada termicamente como se fosse uma peça de aço especial para uma nave espacial? E a fome dos comensais como é que fica enquanto isso? Os clientes esperando pela comida durante horas com a mesma cara de bobo que nem eu, aguardando a carne do gulasch ficar macia???

Na Áustria, depois de um tenebroso inverno enaltecendo a técnica impecável dos solistas, surgem vozes cada vez mais altas e nítidas, exigindo a volta da alegria, da leveza e da descontração com que outrora se fazia música, se tocava instrumentos, se cantava!

Pelo mesmo motivo, minha mulher Maria Alice e eu ficamos fiéis ao modo de preparo de nossos pratos da culinária austro-húngara praticada em nossa taverna, no Bistrô PortoSol.
Para nós, os taverneiros do Bistrô PortoSol, a alegria na mesa é mais importante do que um eventual Prémio Nobel de Química.

Para nós, se a nouvelle cuisine já não subiu no telhado, está prestes a subir!

Prost Mahlzeit!!!

Reinhard Lackinger
o taverneiro do Bistrô PortoSol
www.reg.combr.net/bistro.htm

quarta-feira, 9 de maio de 2012

ainda os leitores

Esperei meu amigo Walter Egon terminar o gulasch de cogumelos, observando-o rasgar fatias de pão francês e raspar o resto do molho cor
de páprica do prato, até empurrar aquela louça redonda e recostar com ar de felicidade talhada na face.
Eu queria pegar a deixa e elogia-lo. Eu queria elogiá-lo, dizendo que ele era um dos frequentadores habitués do Bistrô PortoSol que conseguiram atravessar a "linha do équador do salsichão" de nossa teverna austro-húngara... amarrando uma analogia com o tal "Weißwurstäquator", a "linha do equador do salsichão branco" da Baviera, detalhe. que pretendo plantar numa das minhas futuras malas diretas sem alça.
Mesmo depois de mais de 10 anos de janela, ainda há frequentadores do Bistrô PortoSol, que jamais pediram outro prato, outro petisco, a não ser linguição ou salsichão... O destemido Walter Egon não se deixa afugentar por pratos exóticos no cardápio, como Gulasch de cogumelos, a Receita Medieval ou Powidltascherln, a nossa sobremesa tcheca.

Walter Egon deu um longo suspiro, parecido com um arroto. Ele ignorou o que falei, voltando ao tema "autor, editor versus leitores".

Ele tinha que assistir aquele capítulo da novela "Avenida Brasil", justamente na parte onde a vilã mostra à mocinha uma estante de livros
falsos, ou seja, uma parede inteira de um cômodo formada por uma biblioteca de mentirinha, ostentando apenas casquinhas de capas de livro.
Ora, quanta gente boa não exibe em seus gabinetes no alto de alguma torre fincada no condomínio Omegaville, estantes cheias de obras aparentemente sérias, compradas há décadas pelo reembolso postal?
Nenhum volume com sinais de desgaste visiveis, nenhuma prova de que algum desses exemplares sequer tenha sido folheado...

- Não é fácil redigir um texto que culmine numa peripécia, num chiste, num ponto inesperado -, disse Walter Egon.

- Curta prosa é como uma luta de judô. O autor às vezes consegue um "ippon"... O problema é que tanto o espectador dessa arte marcial quanto o leitor precisam ter algum preparo para perceber ippon e peripécia respectivamente.

No contato virtual e nas redes sociais, os usuários têm lançado mão de onomatopéias como kkkkk, quiaquia, hahahaha para mostrar que é para dar risada da mensagem e para que o interlocutor peso pesado não perca a piada. Será que esse jeiro contaminará um dia a literaura?

No teatro há a figura do "claqueur", da "claque", figuras misturadas ao público que aplaudem ou soltam gargalhadas na hora certa. Os olhos de
minha memória enxergam tabuletas erguidas mais ou menos discretamente, instruindo os espectadores, mandando-os rir, gritar, aplaudir.

Até na última novela de Miguel Falabella usaram esse recurso de uma forma sonora e por demais exagerada.

O povo precisa cada vez mais dessa ajuda?

O que seria do mercado literário sem as listas de Best Sellers, sem as críticas literárias, sem a voz de algum renomado figurão que nos diga
qual livro comprar? -

- Já entendi! -, falei. - Na próxima encarnação, em vez de um exótico bistrô austro-húngaro, abrirei uma pizzaria! Uma pizzaria ou uma creperia com música ao vivo bem alta, para que ninguém tenha que se envolver num papo cabeça, podendo usar a boca epenas para comer...e os olhos para ver bundas se remexendo no palco!"

prost

Reinhard Lackinger
o taverneiro risonho do Bisrtô PortoSol
www.reg.combr.net/bistro.htm

quinta-feira, 3 de maio de 2012














É nesse ambiente ( Bistrô PortoSol ) que pintam os dedões de prosa mais interessantes!

www.reg.combr.net/bistro.htm

Dedões de prosa no Bistrô PortoSol

Acontece todas as noites em nossa taverna. Uns trazem seus sonhos e
projetos na ponta da língua, outros receios e anseios. São os dedões de
prosa que rolam no Bistrô PortoSol. O clima em nosso espaço temático é
favorável a isso! Às vezes pinta até um papo tipo consultório sentimental...

Ontem, no meio da conversa, Prof. Dr. Shmuel Gefiltfish y Mazzes puxou
um assunto, que parecia o fragmento de uma aula que ele devia estar
preparando para os alunos dele.

- Na Roma antiga -, dizia ele. - Na Roma antiga havia uma tal "Damnatio
memoriae". Tratava-se de um processo movido pelo senado, condenando
imperadores mesmo depois de mortos... Essa "Damnatio memoriae" implicava
a erradicação de quaisquer vestígios do imperador condenado e
amaldiçoado, como a destruião de estátuas, demais imagens dele em
moedas, além de escrituras do governante caído em desgraça. Assim, Nero
foi condenado em 68, Julian em 193 e Maximin 283.

Como exemplos de nossa história mais recente, Gefiltfish y Mazes ainda
citou Hitler e Stalin, porém já não pude mais dar atenção a ele por ter
chegado gente querendo ser atendida.

Aliás, não entendo como surgiu o papo dessa tal "Damnatio memoriae".
Pelo que me lembro, eu apenas havia falado do IPTU que vence no dia
cinco. Também citei uma simples passarela, sem prazo para inauguração
depois de mais de 4 anos.... um metrô depois de uns 12 anos e a via
expressa com um túnel cavado por um tatú embriagado...

Pelo visto, não só túneis podem não levar a lugar algum. Conversas
também. hehe

Prost

Reinhard Lackinger
o teverneiro risonho e brincalhão do Bistrô PortoSol
www.reg.combr.net/bistro.htm