quarta-feira, 2 de novembro de 2011

GPS.. e o que mais vão inventar!




Idoso como eu, há décadas venho testemunhando a própria obsolescência.

Sou de uma época, em que certas profissões exigiam força muscular. Quem era fraquinho demais para pegar no pesado, virava confeiteiro, barbeiro ou alfaiate. Por outro lado, ferramenteiro, serralheiro e ferreiro tinha que ter habilidade manual.

Isso tudo acabou, ou quase.


As máquinas operatrizes com comando numérico fazem o produto acabado, sem necessidade de qualquer ajuste.

Hoje, o computador faz praticamente tudo. Aquela máquna de escrever, que imprimia o texto enquanto a gente digitava, desapareceu logo depois daquela calculadora Facit, pesando uns 15 quilos.

Já em 1975, prevendo calculadoras cada vez menores, e sabendo não ser possível diminuir o dedo, projetei um dedal com uma ponta fina, capaz de digitar os números certos até em calculadoras japonesas pequeninas. Sofisticação desse meu projeto hilário era a maneira de como fixar o dedal na ponta do dedo. Previ um parafuso de meia polegada de diâmetro com rosca grossa e cabeça sextavada, apertando justamente a unha do dedo indicador.

Tudo isso é neve de invernos passados! Atualmente, habilidade com extremidades, boca e língua, só jogador de bola, acrobata, músico, e cozinheiro. Perdão, esqueci a bunda da dançarina de axé, parangolé e funk.

Idoso como eu, vê toda essa evolução com certa reserva. Há quem veja em todos esses brinquedos eletrônicos uma perigosa armadilha e um caminho irreversível para a solidão humana!

Ouvi falar de games imitando a realidade, bem como de uma nova geração, que não larga o controle, o joy stick durante horas e mais horas, passando dias e noites sozinha diante do computador, conectada com o mundo através de facebook e outros ambientes virtuais, assistindo a filminhos do Youtube.

Ninguém mais escreve, manda, aguarda ou recebe cartas de alguém distante. Os amigos, que viajaram outro dia para o exterior, diariamente enviam fotos e filmes através do notebook, falam pelo skype, passeando com a câmera pelo quarto do hotel, mostrando a vista que têm da janela. E por falar em hotel, foi o GPS que os guiou até a porta.


Idoso como eu tem dificuldade em aceitar essas novidades eletrônicas. Eu olho para as fotos lá da Europa e vejo muito asfalto, muito passeio e poucos automóveis e ainda menos transeuntes. Muita urbanização para relativamente pouca gente.

Se na época em que meus familiares austríacos ainda estavam vivos, cada um morava só nos quatro paredes, imagine agora.

A certeza social, fruto de mais de meio século sem guerra, fez com que o cidadão pudesse viver tranquilo numa bolha invisível, não tendo que falar com ninguém, muito menos precisando defender o seu espaço de gente folgada!

As pessoas vivem só e morrem só! Uns são achados apenas em avançado estado de putrefação, vários anos após a morte. Não pelo fato de algum parente, amigo ou vizinho desse por falta, mas porque a correspondência acumulada diante da porta do sujeitro ameaçava impedir a passagem dos vizinhos.


Agora, depois de toda essa parafernália eletrônica, condenando as pessoas à solidão, vem ainda o maldito GPS.


Idoso como eu, também fica tempo demais diante do computador, mandando e-mails tipo "mala diretga sem alça", achando que assim cativa pessoas, fazendo com que venham até o mundinho de pensamentos dele, quem sabe, até ao Bistrô PortoSol.

Se há alguma geringonça eletrônica que não pretendo usar jamais, essa é o GPS. Não porque julgo ter algum conhecimento de geografia, mas porque gosto de perguntar aos transeuntes, às pessoas à beira das estradas. Interagir com estranhos em terras estranhas faz parte de minha maneira de viajar. Minha mulher Maria Alice, graças a Deus, embarca nesse passeio.

Fiquei sabendo que essas facilidades eletrônicas não são completamente seguras e que diversos condutores de veículos equipados com GPS acabaram num riacho ou num caminho lamacento entre plantações de beterrabas e milho.

Também tenho tido problemas ao perguntar pela direção certa. Viajando na época dos conflitos sangrentos na antiga Yugoslávia por países como Alemanha e Áustria, de 10 pessoas que perguntei, 13 responderam com forte sotaque do Leste Europeu, lamentando não poder ajudar. Era difícil achar algum nativo na rua. Pareciam todos embiocados em casa diante do novo televisor digital. Curtindo um passeio ao ar livre, aparentemente só bósnios e outros refugiados dos balcans. Eles pareciam adorar poder caminhar pela natureza, sem o receio de pisar numa mina terrestre.


Taverneiro idoso que sou, fico tempo demais diante do computador, redigindo baboseiras como essa, mandando e-mails e colando textos mais ou menos sérios no meu blog, porém pela manhã, você me vê correndo atrás de ingredientes e de terça feira a sábado, a partir das 18:37h passo horas a fio sem computador, interagindo com minha querida clientela do Bistrô PortoSol e espantando não-clientes! hehehe



Reinhard Lackinger

o taverneiro do Bistrô PortoSol

Nenhum comentário:

Postar um comentário