domingo, 16 de setembro de 2012

Na corte do Rei Momo - primeira parte









Prof. Dr. Gefiltfish y Mazzes veio com um papo estranho, falando de um detalhe curioso, que segundo ele, impedia uma solidariedade recíproca na sociedade brasileira.

Vendo minha cara de bobo, explicou que "solidariedade recíproca" era o fenômeno responsável pela diminuição da cratera, o abismo entre ricos e pobres numa nação!
- Os de cima cuidam dos menos favorecidos e os de baixo se comportam direitinho para não atrapalhar a farra dos milionários -, disse ele em tom de brincadeira séria.
Entendi que tanto a ostentação de riqueza de um lado como a baderna ruidosa do outro, não eram a melhor forma de se criar um povo coeso e solidário.

O fenômeno ao qual Gefiltfish y Mazzes se referiu estava no estranho comportamento de pessoas do povo se achando parte da corte, parte da elite, mesmo ganhando um salário de fome. Ele citou o exemplo de professorinhas primárias, garçons e de donos de borracharias, que em vez de torcer pelo Mengão e votar com um partido progressista, torcem pelo Fluminense e votam com partidos conservadores.
- Um fenômeno brasileiro -, disse ele.
- Um fenômeno lembrando Ufólogos e Teóricos de Conspirações internacionais, disse Gefiltfish y Mazzes. Gente, que em vez de ocupar-se com tarefas caseiras, buscam problemas fora e bem longe de seu alcance! Entendeu? -

Não entendi nada!

- Simples -, disse o professor. - Basta um pobretão brasileiro repetir o que diz "gente bem", imitando "pessoas brancas finas de valor" e já se sente parte da elite! Chamando atenção de um eventual erro de português de um figurão do partido progressista, é como bater o jogo de biriba com canastra real! -

- Você vai me perdoar a pilhéria, mas essa gente pobrinha, negando a sua origem humilde, tentando a todo custo ser elite, me lembra mestre-sala e porta-bandeira fora da escola de samba e depois da quarta feira de cinzas! -

Reinhard Lackinger


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