Um dos detalhes dessa Bahia cheia de mistérios, que mais tem me encantado é a heterogeneidade do povo.
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Acostumado a uma absoluta padronização dos comportamentos vigentes lá no assim chamado primeiro mundo, me vi perdido ao ter que enfrentar e assimilar uma profusão de costumes.
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Levou tempo para eu poder verbalizar o que o meu coração sentiu desde quando resolvi ficar nessa "terra do branco mulato, terra do preto doutor".
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Outro dia, um velho amigo, hoje eminência parda do círculo literário e editor de um magazine cultural de minha terra natal, mandou um e-mail circular que mexeu comigo.
.Ele contou, quais as peças de teatro, quais as óperas e quais os regentes comas filarmónicas mais famosas ele assistiu em festivais de verão à beira de lagos austríacos... ora recebendo cortesias, ora pagando fortunas por um ingresso.
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Se ele não usasse a palavra "alta cultura", talvez eu passasse batido pela mensagem.
.A palavra "alta cultura" não deu para engolir!
Explico porque!
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Desde a idade média é o mesmo queijo fedido! A mesma petulância, a mesma presunção...
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Antigamente, quando "o social" ainda não existia no vocabulário dos governantes, os nobres seculares gastavam fortunas contratando arquitetos, escultores e pintores, mandando erguer palácios luxuosos para si e a corte... para os dos puxa saco poderem se sentir no céu na terra usufruindo de tudo que era privilégio.
.O clero por sua vez metia a grana na construção de belas igrejas, basílicas, abadias.
.Tanto reis, quanto cardeais contratavam maestros, organistas e compositores famosos e outros artistas a peso de ouro, enquanto o povão pousava para pintores como Le Nain, Brueghel, Bosch, exibindo bocas desdentadas, escancaradas diante de tamanha belezura das obras de arte em ambientes cheios de ouro.
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Era uma época em que Viena não passava de uma cidadezinha inexpressiva, que iria crescendo na medida em que a vida comercial e social se avolumava, graças a migrações e o afluxo de gente vinda de outras regiões da Europa.
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Basta folhear o catálogo telefônico de Viena para se deparar com nomes tchecos, slovacos, húngaros, italianos, eslovenos, croatas, romenos, búlgaros, bielorussos,silêsios...
O resultado dessa migração foi um povo híbrido, transpirando costumes diversos.
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Foi essa gente responsável pela "alta cultura" do século dezoito para cá.
Para cá não!
Sinto que a tal "alta cultura" austríaca engatou uma marcha lenta nessesúltimos 50 anos.
Penso que essa estagnação cultural se deve ao bem estar e o excesso de obras sociaisa partir da éra Kreisky e dos anos 60.
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Muita urbanização para pouca gente, zonas de pedestres expulsando compradoresdos centros antigos das cidades, criando guetos na periferia em forma de shopping centers.
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Até os músicos parecem ter perdido a alegria de tocar, tendo sido transformado em verdadeiros robós, obrigados a executar peças musicais segundo critérios chatos e absolutamente técnicos.
.Os rostos dos Violinistas e demais solistas já não refletem mais a mesma emoção exacerbada como antigamente. Apenas a fisionomia do primas derrete ainda ao tocar para um casal numa czárdá húngara, chegando, quem sabe, a babar no decote da moça...
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Os artistas plásticos há decadas fazem qualquer maluquice. Pudera, o olho humano mais cedo ou mais tarde se acostuma a maior aberração... vide aqueles 3 urubús...
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E quem não tem talento para pintar, nem ouvido para tocar um instrumento, vira poeta...
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No e-mail em que ousei criticar a "alta cultura" dos europeus, arrisquei o palpite de que era o ouro, a prata, as esmeraldas e o sangue das veias abertas da América Latina que financiaram a Renascença e a Revolução Industrial da Europa.
.No e-mail em que ousei criticar a "alta cultura" dos europeus, disse ainda que desejava aos europeus um afluxo consistente de migrantes de países pobres...
.Só assim para acharem de novo o rumo para uma nova "alta cultura"!
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Quando comparo Salvador a Viena e Paris do século dezoito, não digo isso apenas por sacanagem, referindo-me ao nosso saneamento básico muito parecido com que se tinha na França e na Áustria daquela época,, quando os penicos eram despejados na rua!
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Salvador, Bahia e o Brasil de hoje me parece estar numa ebulição igual com aquela que fez surgir as grandes potências da Europa do século dezenove.
Melhor!
.Apesar da heterogeneidade do povo brasileiro, não existe nesta terra gente presunçosa, petulante e preconceituosa, coisa que poderia engessar a sociedade e emperrar o desenvolvimento do país!
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Alta cultura austríaca só no Bistrô PortoSol em forma de comida caseira tradicional austro-húngara... hehehe
Este assunto poderá ter filhotes.
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