segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Falando da alta cultura da Europa












Um dos detalhes dessa Bahia cheia de mistérios, que mais tem me encantado é a heterogeneidade do povo.
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Acostumado a uma absoluta padronização dos comportamentos vigentes lá no assim chamado primeiro mundo, me vi perdido ao ter que enfrentar e assimilar uma profusão de costumes.
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Levou tempo para eu poder verbalizar o que o meu coração sentiu desde quando resolvi ficar nessa "terra do branco mulato, terra do preto doutor".
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Outro dia, um velho amigo, hoje eminência parda do círculo literário e editor de um magazine cultural de minha terra natal, mandou um e-mail circular que mexeu comigo.
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Ele contou, quais as peças de teatro, quais as óperas e quais os regentes comas filarmónicas mais famosas ele assistiu em festivais de verão à beira de lagos austríacos... ora recebendo cortesias, ora pagando fortunas por um ingresso.
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Se ele não usasse a palavra "alta cultura", talvez eu passasse batido pela mensagem.
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A palavra "alta cultura" não deu para engolir!
Explico porque!
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Desde a idade média é o mesmo queijo fedido! A mesma petulância, a mesma presunção...
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Antigamente, quando "o social" ainda não existia no vocabulário dos governantes, os nobres seculares gastavam fortunas contratando arquitetos, escultores e pintores, mandando erguer palácios luxuosos para si e a corte... para os dos puxa saco poderem se sentir no céu na terra usufruindo de tudo que era privilégio.
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O clero por sua vez metia a grana na construção de belas igrejas, basílicas, abadias.
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Tanto reis, quanto cardeais contratavam maestros, organistas e compositores famosos e outros artistas a peso de ouro, enquanto o povão pousava para pintores como Le Nain, Brueghel, Bosch, exibindo bocas desdentadas, escancaradas diante de tamanha belezura das obras de arte em ambientes cheios de ouro.
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Era uma época em que Viena não passava de uma cidadezinha inexpressiva, que iria crescendo na medida em que a vida comercial e social se avolumava, graças a migrações e o afluxo de gente vinda de outras regiões da Europa.
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Basta folhear o catálogo telefônico de Viena para se deparar com nomes tchecos, slovacos, húngaros, italianos, eslovenos, croatas, romenos, búlgaros, bielorussos,silêsios...
O resultado dessa migração foi um povo híbrido, transpirando costumes diversos.
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Foi essa gente responsável pela "alta cultura" do século dezoito para cá.
Para cá não!
Sinto que a tal "alta cultura" austríaca engatou uma marcha lenta nessesúltimos 50 anos.
Penso que essa estagnação cultural se deve ao bem estar e o excesso de obras sociaisa partir da éra Kreisky e dos anos 60.
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Muita urbanização para pouca gente, zonas de pedestres expulsando compradoresdos centros antigos das cidades, criando guetos na periferia em forma de shopping centers.
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Até os músicos parecem ter perdido a alegria de tocar, tendo sido transformado em verdadeiros robós, obrigados a executar peças musicais segundo critérios chatos e absolutamente técnicos.
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Os rostos dos Violinistas e demais solistas já não refletem mais a mesma emoção exacerbada como antigamente. Apenas a fisionomia do primas derrete ainda ao tocar para um casal numa czárdá húngara, chegando, quem sabe, a babar no decote da moça...
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Os artistas plásticos há decadas fazem qualquer maluquice. Pudera, o olho humano mais cedo ou mais tarde se acostuma a maior aberração... vide aqueles 3 urubús...
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E quem não tem talento para pintar, nem ouvido para tocar um instrumento, vira poeta...
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No e-mail em que ousei criticar a "alta cultura" dos europeus, arrisquei o palpite de que era o ouro, a prata, as esmeraldas e o sangue das veias abertas da América Latina que financiaram a Renascença e a Revolução Industrial da Europa.
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No e-mail em que ousei criticar a "alta cultura" dos europeus, disse ainda que desejava aos europeus um afluxo consistente de migrantes de países pobres...
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Só assim para acharem de novo o rumo para uma nova "alta cultura"!
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Quando comparo Salvador a Viena e Paris do século dezoito, não digo isso apenas por sacanagem, referindo-me ao nosso saneamento básico muito parecido com que se tinha na França e na Áustria daquela época,, quando os penicos eram despejados na rua!
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Salvador, Bahia e o Brasil de hoje me parece estar numa ebulição igual com aquela que fez surgir as grandes potências da Europa do século dezenove.
Melhor!
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Apesar da heterogeneidade do povo brasileiro, não existe nesta terra gente presunçosa, petulante e preconceituosa, coisa que poderia engessar a sociedade e emperrar o desenvolvimento do país!
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Alta cultura austríaca só no Bistrô PortoSol em forma de comida caseira tradicional austro-húngara... hehehe


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