terça-feira, 23 de julho de 2013

Mr. Hyde de mercedão

Na Áustria, Alemanha e Suíça alemã dos anos 1950 havia um neologismo na boca do povo simples: "Mercedesfahrer", ou seja, o condutor de uma mercedes, ou seja, o proprietário de um carrão de passeio espaçoso por dentro e principalmente por fora... nas estradas ainda estreitas e com uma vala de um metro de largura e o mesmo tanto de profundidade de cada lado da pista .

Volta e meia um dos veículos miúdos dirigidos pelo povão acabou sendo empurrado para fora da estrada por uma daquelas mercedes, ficando emborcado naquela vala.
Carrinhos como Renault Daupine, Fiat 500, Romisetta, sem falar das motocicletas, bicicletas e pedestres. (1)

Logo, o termo "Mercedesfahrer" foi usado para falar de uma pessoa grossa, sem consideração para com o próximo, só por estar momentaneamente com alguma vantagem material, ou seja, com uma arma em forma de veículo mais potente dos demais.

No nosso quotidiano soteropolitano temos uma série de "Mercedesfahrer", a começar pelos motoristas de ônibus, caminhões e caçambas.

O comportamento típico do "Mercedesfahrer" não se restringe ao trânsito de nossas ruas!
Observamos esse comportamento até muito bem nas atitudes de quem deixa o Mr. Hyde tomar conta do Dr. Jakyll!
Há quem consiga parecer um "Mercedesfahrer" empurrando um simples carrinho de supermercado numa loja de delicatessen!

Pessoalmente acho um desperdício uma pessoa usar sua suposta superioridade material apenas para ostentá-la.

Um dia eu sonhei que havia uma orientação legal que induzisse o mais forte a considerar e a cuidar do mais fraco.(2)
O poder que emanaria dessa solidariedade iria mover montanhas, metrôs e toda sorte de veículos necessários para garantir uma boa mobilidade urbana!
"Noblesse oblige", "nobreza obriga", sussurrou a voz ainda antes de eu despertar.

O panfletarista juramentado e militante dentro de mim sugere que os nossos "Mercerdesfahrer" acham que "noblesse obligue" significa empunhar uma caneta Mont Blanc para assinar medidas um tantinho impopulares que só beneficiam meia dúzia de amigos, enquanto o meu lado menos tosco procura imaginar formas de incentivar relações solidárias!!

Reinhard Lackinger

(1) Naquela mesma época dos anos 1950 e 1960 a KPÖ, ou seja, o Partido Comunista da Áustria, que no auge conseguiu ocupar uma das 164 cadeiras do parlamento, com os eleitores enchendo umas duas Kombis, usou como slogan de campanha: "Links gehen, Gefahr sehen", ou seja, a instrução para qualquer pedestre: "caminhar do lado esquerdo da estrada para ver de frente o perigo do veículo se aproximando!"

(2) Já tentaram legalizar uma orientação dessas, afirmando que terra teria que ter função social! Ora, onde já se viu uma aberração dessas? 

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