Na Áustria, Alemanha e Suíça alemã dos anos 1950 havia um neologismo na
boca do povo simples: "Mercedesfahrer", ou seja, o condutor de uma
mercedes, ou seja, o proprietário de um carrão de passeio espaçoso por
dentro e principalmente por fora... nas estradas ainda estreitas e com
uma vala de um metro de largura e o mesmo tanto de profundidade de cada
lado da pista .
Volta e meia um dos veículos miúdos dirigidos pelo povão acabou sendo
empurrado para fora da estrada por uma daquelas mercedes, ficando
emborcado naquela vala.
Carrinhos como Renault Daupine, Fiat 500, Romisetta, sem falar das
motocicletas, bicicletas e pedestres. (1)
Logo, o termo "Mercedesfahrer" foi usado para falar de uma pessoa
grossa, sem consideração para com o próximo, só por estar
momentaneamente com alguma vantagem material, ou seja, com uma arma em
forma de veículo mais potente dos demais.
No nosso quotidiano soteropolitano temos uma série de "Mercedesfahrer",
a começar pelos motoristas de ônibus, caminhões e caçambas.
O comportamento típico do "Mercedesfahrer" não se restringe ao trânsito
de nossas ruas!
Observamos esse comportamento até muito bem nas atitudes de quem deixa o
Mr. Hyde tomar conta do Dr. Jakyll!
Há quem consiga parecer um "Mercedesfahrer" empurrando um simples
carrinho de supermercado numa loja de delicatessen!
Pessoalmente acho um desperdício uma pessoa usar sua suposta
superioridade material apenas para ostentá-la.
Um dia eu sonhei que havia uma orientação legal que induzisse o mais
forte a considerar e a cuidar do mais fraco.(2)
O poder que emanaria dessa solidariedade iria mover montanhas, metrôs e
toda sorte de veículos necessários para garantir uma boa mobilidade urbana!
"Noblesse oblige", "nobreza obriga", sussurrou a voz ainda antes de eu
despertar.
O panfletarista juramentado e militante dentro de mim sugere que os
nossos "Mercerdesfahrer" acham que "noblesse obligue" significa empunhar
uma caneta Mont Blanc para assinar medidas um tantinho impopulares que
só beneficiam meia dúzia de amigos, enquanto o meu lado menos tosco
procura imaginar formas de incentivar relações solidárias!!
Reinhard Lackinger
(1) Naquela mesma época dos anos 1950 e 1960 a KPÖ, ou seja, o Partido
Comunista da Áustria, que no auge conseguiu ocupar uma das 164 cadeiras
do parlamento, com os eleitores enchendo umas duas Kombis, usou como
slogan de campanha: "Links gehen, Gefahr sehen", ou seja, a instrução
para qualquer pedestre: "caminhar do lado esquerdo da estrada para ver
de frente o perigo do veículo se aproximando!"
(2) Já tentaram legalizar uma orientação dessas, afirmando que terra
teria que ter função social! Ora, onde já se viu uma aberração dessas?
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