quarta-feira, 4 de abril de 2012



A descarnavalização do carnaval de Salvador.


Março de 2011.

Escrevo esse texto, pensando nas pessoas que nasceram a partir de 1980 e por isso não conheceram o carnaval de Salvador.



Essa festa que acontece na nossa cidade desde o início dos anos 80, e que prefiro não chamar de carnaval, segue o velho rito da colonização.


Após se apropriar das terras que invade, o colonizador transforma em servos os seus antigos donos.

As praias do Nordeste brasileiro são um exemplo.

Os antigos proprietários estão vendendo as suas terras por ninharia, para se tornarem empregados dos novos donos.


Desde que o mundo é mundo, a coisa funciona dessa maneira. Abandonamos a tribo, em troca de uma civilização que privilegia o patrimônio em detrimento do ser humano. Isso nos escraviza e nos mata todos os dias.


Mas, voltemos ao carnaval. Essa festa, regida pelo ano lunar do Cristianismo da Idade Média, surgiu a partir da criação da Semana Santa pela Igreja Católica, antecedida por quarenta dias de jejum, a Quaresma. Esse longo período de privações motivou a criação de festividades nos dias que antecediam a Quarta-feira de Cinzas, primeiro dia da Quaresma. A palavra “carnaval” origina-se da expressão latina “carnis valis”, que significa prazeres da carne.


O carnaval tinha duração de três dias, domingo, segunda e terça-feira, sendo esse último chamado de Terça-feira Gorda, conhecida na França como Mardi Gras, em função do seu contraste com a Quaresma, tempo de penitência e privação. Durante o período do carnaval havia uma grande concentração de festejos populares. Cada cidade brincava a seu modo, de acordo com seus costumes. O carnaval moderno, feito de desfiles e fantasias, é produto da sociedade vitoriana do século XIX.

Paris foi a principal exportadora da festa carnavalesca para o resto do mundo. Cidades como Nice, New Orleans, Toronto e Rio de Janeiro se inspiraram no carnaval parisiense para criar as suas novas festas carnavalescas. O Rio de Janeiro criou e acabou exportando para outras cidades do mundo e do próprio Brasil, como São Paulo, o estilo de carnaval com desfiles de escolas de samba.
Salvador foi contemplada com a festa vinda de Portugal, nos idos do século XVI, conhecida como entrudo. A sociedade baiana desfilava pelas ruas do centro de Salvador nos seus automóveis conversíveis, trajando fantasias, leques e máscaras importados de Paris, lançando quilos de confetes e serpentinas, além de perfumes também importados, borrifados a partir de pequenos frascos dotados de uma bombinha de borracha. Os carros alegóricos com suas bandas de música completavam o cortejo, assistido de fora pelas pessoas mais simples.


No inicio dos anos 50, Dodô e Osmar invadiram as ruas do centro de Salvador, no domingo daquele carnaval, tocando nos seus instrumentos elétricos um repertório de frevos pernambucanos, levando ao delírio a população que naquela época apenas assistia à festa, sem dela participar. Nesse dia, durante o desfile do Clube Fantoches da Euterpe, o frevo eletrizado tocado por essa dupla de músicos baianos em cima de uma fobica, um Ford ano 1929 com dois alto-falantes, dirigido por Olegário Muriçoca, arrastou a multidão para dentro da festa, transformando o carnaval numa verdadeira manifestação popular.


Três dias de liberdade total, uma só “tribo”, sem diferenças de classe, cor, credo ou sexo. Todos na rua com suas mortalhas e pierrôs, sozinhos, em pequenos grupos de amigos ou nos blocos de bairro, com suas bandinhas ou simples batucadas.

Os afoxés, manifestação da cultura afro-baiana, e os blocos de índio, marcando presença das vítimas da nossa colonização européia, se juntavam nessa verdadeira confraternização da alegria. Os Clubes Sociais faziam os bailes de carnaval à noite, as “batalhas de confetes” pela manhã e os bailes infantis à tarde.


Importante lembrar que esses bailes eram animados por grandes Orquestras que chegavam a ter mais de trinta músicos, incluindo vários instrumentos de sopro e no mínimo dois cantores, uma voz feminina e uma masculina, além da percussão. A mais famosa delas era a Orquestra de Britinho e Seus Stukas (ou Stucas). No repertório, marchinhas, frevos e sambas de compositores cariocas, pernambucanos, paulistas e baianos, que se tornaram muito conhecidos por vários carnavais, a exemplo da marchinha “Colombina”, do compositor baiano Armando Sá . Esses mesmos Clubes chegaram a desfilar numa época com os seus Carros Alegóricos, a exemplo do Fantoches da Euterpe, da Associação Atlética da Bahia e do Clube Cruz Vermelha.

Outras Agremiações se mantiveram no desfile, a exemplo dos Mercadores de Bagdá, Cavaleiros de Bagdá, Inocentes em Progresso dentre outros.

As famílias instalavam suas cadeiras nas calçadas da avenida durante os dias da folia, com o objetivo de assistirem o carnaval com os seus filhos, parentes e amigos, colocando seus nomes para identificá-las e só as recolhendo no último dia da festa.


A “dupla elétrica” Dodô e Osmar trocava o velho Ford por uma picape Chrysler e acrescentava mais um músico, Temístocles Aragão, tocando o triolim, um cavaquinho tenor com quatro cordas, completando assim o trio elétrico, com Osmar Macedo tocando guitarra baiana, que na verdade era (e é) um cavaquinho elétrico com afinação de bandolim, e Adolfo Nascimento, conhecido por Dodô, tocando o violão elétrico de seis cordas, fazendo a harmonia e os baixos, no estilo do violão de sete cordas dos conjuntos regionais. No ano seguinte, com uma pequena ajuda financeira de Miguel Vita, dono de uma fábrica baiana de refrigerantes Fratelli Vita, Dodô montou um caminhão com vários alto-falantes do tipo corneta, desses de praça de interior, iluminado com lâmpadas de filamento coloridas e fluorescentes, e fixou os músicos da percussão, que antes tocavam andando ao lado da fobica, um pouco abaixo da parte superior onde eles tocavam, numa espécie de varanda em volta da estrutura de aço montada sobre o veículo. Toda essa parte técnica, montagem da estrutura do trio e, acima de tudo, a invenção dos instrumentos elétricos, tinha a assinatura do radiotécnico, eletricista, inventor e músico Adolfo Nascimento, o Dodô. O seu invento, a guitarra elétrica com captação eletromagnética, por não ter sido patenteado, foi copiado por um fabricante norte-americano, dando origem a diversas marcas de guitarras, hoje muito famosas no mundo inteiro. Além de mais esse ato de colonização, e por mais incrível que pareça, o nome “trio elétrico”, também por não ter sido patenteado pelos seus verdadeiros inventores, foi igualmente colonizado e hoje é de propriedade de um repórter francês, de nome Remir Colaponca, pelo menos no registro. Ele pediu autorização a Osmar para ser representante do trio elétrico na França, em 1990. Com o documento assinado por Osmar, o francês registrou o nome trio elétrico em seu país.


Nos anos seguintes, ainda na década de 50, foram surgindo outros trios elétricos, como o da Aguardente Jacaré e o do Esporte Clube Bahia que, juntos com o da Fratelli Vita, animavam os foliões durante os três dias de carnaval. Todos eles montados na oficina de Dodô, no bairro da Calçada, arrastando multidões vestidas de pierrô, mortalhas de diversas estampas e tantas outras fantasias, de acordo com a criatividade de quem as usava, além das máscaras, muito comuns durante o dia. Em 1958, o carnavalesco Orlando Campos lançou o trio elétrico Tapajós, que ficou muito conhecido no nosso carnaval. Campos foi o inventor também do Caetanave, um trio em homenagem a Caetano Veloso que mais tarde, no ano de 1972, entraria na Praça Castro Alves tocando “Chuva Suor e Cerveja”, frevo criado pelo compositor baiano durante o seu exílio em Londres.


O lança-perfume Rodouro, um aerosol de aroma muito agradável, lançado no carnaval do Rio de Janeiro em 1904 pela Empresa francesa Rhodia sediada na Argentina, era usado para jogar uns nos outros, por pura brincadeira. As famílias compravam caixas deles, junto com os pacotes de confetes e serpentinas, a fim de levar para os Clubes e para o carnaval de rua. O lança-perfume não era proibido, pelo contrário, era praticamente um acessório obrigatório no carnaval, e até as crianças usavam, direcionando jatos gelados e perfumados nas pernas dos adultos. Depois vieram os abusos e a conseqüente proibição em 1961 pelo então Presidente Jânio Quadros.


Em 1969, o frevo “Atrás do Trio Elétrico”, composição de Caetano Veloso e uma justa homenagem a essa grande invenção baiana, fez ecoar no resto do País, através das rádios e dos discos compactos que bateram recordes de vendas, esse fenômeno ainda desconhecido da maioria dos brasileiros. Caetano seguia para o exílio em Londres e o seu frevo invadia as ruas de Salvador, tocado pelos trios elétricos que nessa época não tinham microfone e por isso as músicas eram apenas soladas pelas guitarras baianas. As letras das composições de carnaval só podiam ser ouvidas nos bailes dos clubes pelos crooners das orquestras, ou pelos próprios foliões. Três anos depois, ao retornar para Salvador, Caetano apresentou ao público pela primeira vez como convidados especiais, no seu show realizado no Teatro Castro Alves, os inventores do trio elétrico Dodô e Osmar. Osmar fez um resumo da história do trio elétrico e dos fantásticos instrumentos inventados por Dodô. Armandinho Macedo, filho de Osmar, se apresentou junto com eles, todos tocando instrumentos acústicos, devido à limitação do equipamento de som, que precisou substituir de última hora os aparelhos “Altec” trazidos de Londres por Caetano, queimados durante os ensaios em conseqüência da falta de familiaridade do técnico inglês Maurice com a rede elétrica do Teatro. Tocaram, entre outras músicas, o “Frevo do Trio Elétrico”, composição de Dodô e Osmar, com a letra podendo finalmente ser ouvida pela platéia atônita. Após esse espetáculo, que foi apresentado também no Rio de Janeiro, o trio elétrico passou a ser definitivamente conhecido em todo o Brasil, como o elemento mais importante da revolução do carnaval da Bahia.

Uma Gravadora se interessou pela novidade e em 1975 lançou o LP “Jubileu de Prata”, primeiro disco do trio elétrico Dodô e Osmar, comemorando os 25 anos do trio elétrico. Moraes Moreira participou do projeto como parceiro em algumas composições da dupla Dodô e Osmar, além de intérprete. Mais tarde viria a colocar letra numa música bem antiga da dupla Dodô e Osmar, “Double Morse”, que passou a se chamar “Pombo Correio” e se transformar num dos seus maiores sucessos.

No carnaval daquele Jubileu, Moraes Moreira subiu no trio elétrico de Dodô e Osmar com um microfone, e cantou durante o carnaval todas aquelas músicas que até aquele dia eram apenas soladas pelos instrumentos elétricos. Moraes Moreira passou a ser o mais importante compositor do carnaval baiano, criando verdadeiras obras primas em parceria com Dodô e Osmar, Armandinho, Risério, e outros, além de Galvão, seu eterno parceiro do grupo “Novos Baianos”. Suas composições de carnaval tornaram-se históricas, entrando obrigatoriamente em todos os repertórios de interpretes carnavalescos, incluindo, é claro, os trios elétricos. Misturou o frevo com o ijexá e se tornou “a cara do carnaval”, passando a ser reverenciado como “Moraes Carnaval Moreira”, título inclusive de um dos seus álbuns.
Com a inclusão do grande guitarrista filho de Osmar, o trio elétrico de “Dodô e Osmar” passou a se chamar “Armandinho, Dodô e Osmar”, agregando mais outros três filhos e músicos, Aroldo, André e Betinho. O trio elétrico dos Novos Baianos entrava na festa, sempre montado de última hora, com as caixas de som muitas vezes amarradas com arame. O som impecável, com Pepeu tirando um timbre inconfundível na sua guitarra baiana, e as vozes por demais conhecidas de Baby Consuelo, Paulinho Boca de Cantor e Moraes Moreira. O povo delirava com “Chão da Praça”, “Pessoal do Aló” e tantas outras maravilhas de Moraes.


No carnaval de 1978, o “Traz os Montes”, bloco de adolescentes do bairro da Barra, único a sair de macacão no lugar das mortalhas, substituiu a sua banda de sopros e percussão pelo trio elétrico “Tupinambás”, tornando-se o primeiro bloco a sair com um trio elétrico e um cantor/puxador em cima do trio. No ano seguinte passaria a ter o seu próprio trio elétrico, contratando uma banda de Rock chamada “Scorpius”, que mais tarde mudaria o nome para “Chiclete Com Banana”.


No começo dos anos 80, em mais um lance de ousadia e criatividade dos líderes do bloco, os amplificadores valvulados foram substituídos por equipamentos transistorizados super potentes, aparelhos de ar-condicionado foram instalados para proteger esses equipamentos, e as bocas dos alto-falantes cederam lugar às caixas acústicas retangulares, com colunas de caixas de som que destacavam a voz do cantor e as notas graves do contrabaixo, além de projetar a música para bem longe.


Toda a Banda, com bateria, cantor e demais músicos, subiu para o topo da estrutura transformada em palco, eliminando o “varandão” que existia em volta e abaixo, onde antes tocava o pessoal da percussão.

O uso de amplificadores transistorizados em substituição aos até então valvulados foi considerado uma loucura por aqueles que se mostravam céticos com essa “opção moderna”, inclusive o próprio Osmar, que afirmava ser impossível essa tecnologia agüentar o tranco do carnaval sem queimar. Para surpresa geral, quando o som transistorizado saiu pelas caixas acústicas do caminhão do bloco “Traz os Montes”, invadindo todo o centro da cidade com a sua potência e qualidade inigualáveis, todos se curvaram diante dessa novidade e, logo no ano seguinte, os demais trios elétricos substituiriam os seus amplificadores valvulados pelos transistorizados. Com o caminho aberto pelo bloco “Traz os Montes”, outros blocos iniciaram gradativamente a introdução do trio elétrico dentro das suas cordas.


Essa nova possibilidade despertou o interesse de grupos que passaram a ver nessa festa sem dono, com forte apelo popular e midiático, uma fonte promissora de riqueza.

A profissionalização da festa virou lei.

O bloco “Traz os Montes”, apesar dessas inovações tão importantes e que viriam influenciar nessa profissionalização do carnaval baiano, manteve-se no amadorismo salutar, com os seus organizadores limitando-se apenas a pagar as contas com o dinheiro rateado entre os associados, muitas vezes tirado do próprio bolso, já que tinham as suas profissões e os seus salários, e o bloco era apenas um hobby.


Na verdade, o povo era o verdadeiro dono, o principal personagem, a grande estrela da festa. Não havia destaques, os músicos se misturavam com os foliões e mesmo aqueles que tocavam em cima dos trios elétricos eram ilustres desconhecidos. Durante o ano, todos eles tinham as suas profissões, e no carnaval apenas se divertiam tocando nos trios elétricos. Exemplo disso é um fato curioso que ocorreu em 1960: o trio elétrico Dodô e Osmar deixou de sair no carnaval de Salvador, porque os dois se dedicavam ao exercício da profissão, o que não combinava com o carnaval, que era considerado uma diversão. Assim, a única idolatria que existia era pela magia da festa, das músicas muito bem elaboradas e daquele folião ou daquela foliã que despertava interesse e paixões.

O mundo já começava a conhecer o carnaval de Salvador, reconhecê-lo e respeitá-lo como a sua maior festa popular, vista através das redes de televisão.


Estava aí o gênesis de um grande negócio. Obedecendo ao tal ritual da colonização, os empresários, sempre ávidos por lucro, invadiram esse território da maior festa popular do Mundo, se apropriaram da sua cultura e do seu espaço físico, transformando os seus inventores e verdadeiros atores em espectadores e empregados.

O anzol do sistema fisgou o grande peixe com a isca da “geração de empregos”. Como resultado, um mundo de gente que criou essa festa, transformando-a num evento de inclusão social, sendo excluída vergonhosamente, transformada em “cordeiros”, “pipoqueiros” e afins.

Os músicos passaram a acompanhar as grandes estrelas criadas pela vitrine que a festa foi transformada, submetendo-se a duras jornadas de trabalho, muitos deles sem nenhuma segurança trabalhista.


O amadorismo despretensioso foi substituído pelos contratos milionários, submetendo os novos cantores/empresários a pousarem de garotos-propaganda de cervejas, eletrodomésticos, cosméticos e tantos outros, além de animarem programas de auditório de gosto duvidoso das redes de televisão, sem falar da quantidade de apresentações que são obrigados a cumprir num único dia, na sua maioria em localidades distintas, fora da época do carnaval. Os foliões, além de serem iludidos pela mídia que fatura em cima das suas imagens coloridas de abadás e danças que aprendem em uma semana nas academias, são literalmente espremidos dentro das cordas dos blocos, que lhes cobram fábulas para estourarem os seus tímpanos.

Os chamados “carros de apoio”, carretas que vendem bebidas e comidas dentro dos blocos milionários, tiraram o trabalho de centenas de barraqueiros, excluídos da festa pelos novos “proprietários”.


Os atuais “Camarotes”, outra invenção esquizofrênica desses industriais do entretenimento, atraem consumidores e celebridades de fora da nossa cidade, oferecendo “perfumarias” com nomes americanizados do tipo all inclusive, free bar, além de boites, DJ, salão de beleza e outras imbecilidades alheias ao carnaval.

Do alto desse éden da caretice, pode-se assistir “com segurança” aos desfiles das estrelas, que viajam em cima de carretas apinhadas de convidados das redes de televisão e carregadas de patrocinadores. A vítima maior, o nosso verdadeiro carnaval, jogado no lixo pela ignorância e ganância desses empresários, com a cumplicidade do poder público, igualmente ignorante.


Uma festa em que o trio elétrico um dia incluiu, ironicamente passou a excluir, sepultando uma história que as novas gerações desconhecem.


Será que podemos chamar essa festa de carnaval?

Só quem não conheceu e/ou não entende o seu significado pode chamá-la desse nome. Claro, alguém pode dizer que tudo tende a evoluir e isso não poderia deixar de acontecer com o carnaval.

É verdade. Longe de mim ser contra a evolução. Mas também é verdade que nem tudo que evolui muda para melhor ou que não tenha efeitos colaterais nefastos.

É verdade também que nos tornamos escravos do sistema e o carnaval não é a sua única vítima. Mas não posso concordar que continuem dizendo que é a “maior festa popular do mundo”, pois não é mais.


Felizmente no Guiness Book consta como “a maior festa de rua do mundo” e não popular, como a mídia costuma vender.


Também discordo que a continuem chamando de carnaval.

Isso é apropriação indébita do nome. Criaram um grande negócio usando o espaço público e um período que pertence ao calendário cultural da nossa Cidade, além de um nome que descreve uma manifestação popular, uma manifestação cultural, e por isso não pode ser apropriado pelo setor privado, com o objetivo de auferir lucro.

A Lavagem do Bonfim chegou a sofrer essa ameaça e quase foi extinta, não fosse criado o Bonfim Light (nome mais infeliz e preconceituoso do que esse, impossível) para atender a esses grupos que obtêm lucro à custa da exploração das novas gerações, induzidas através desse ridículo nome a não se misturarem com o povo.


Foi assim que acabaram descarnavalizando o carnaval de Salvador, transformando-o numa festa de exclusão social elitezada e imbecilizada. O que temos hoje é uma manifestação exclusivamente comercial, que chamam de carnaval. Eu não posso inventar uma bebida escura, cor de café, gaseificada, e chamá-la de Coca Cola, mesmo que tenha gosto bem parecido. Estão chamando uma festa com o nome de outra que não existe mais.

Ela evoluiu, é verdade, mas para outra festa que não é carnaval.

Tanto é verdade que esse mesmo evento acontece em diversas capitais durante o ano, fora do período do carnaval, com outros nomes. Por que não fazê-la também em Salvador fora do período do carnaval, e chamá-la de “Salvador Folia”, “Carnaval Light” ou “Pague e Pule”, e resgatar o nosso verdadeiro carnaval?

Difícil acreditar nessa possibilidade, o dinheiro fala cada vez mais alto e essa situação parece irreversível. Mas, por favor, ao menos mudem o nome dessa festa.


Deixem o nome “carnaval” apenas para lembrarmos daquela que foi um dia a maior festa popular do Mundo.


Haroldinho Sá.

2 comentários:

  1. Se entendi bemo texto de Haroldinho Sá, houve uma época em que o carnaval foi feito pelos foliões e para os foliões.
    Agora, o carnaval virou uma mova festa, criada por comerciantes "muvucocratas" e seus sócios dentro e fora do poder público, exclusivamente para os donos de blocos, trios e camarotes!

    O formato dessa mova festa, que segundo Haroldinho Sá não deve ser chamado mais de carnaval, visa unicamente a maximização dos lucros dos tais "muvucocratas".

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  2. Boa tarde!
    Amigo fiquei muito feliz quando li esse Blog falando do Carnaval da Bahia, lembro com alegria de meu pai Israel Novaes, o criador do Trio Elétrico "Tupinambás" da cidade de São Sebastião do Passé-Ba. hoje fico triste como a mida esta acabando com essa festa, que só o baiano fazia diferente de todo mundo, e o trio elétrico era o diferencial dessa festa, com suas musicas, músicos, ritmos e indumentarias, coreografia e muito mais... quero agradecer ao amigo Reinhard Lackinger pela criação desse Blog e por contar com resumido detalhes a história dos trios e do carnaval da Bahia.
    um forte abraço Júnior Novaes-músico

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