quinta-feira, 5 de abril de 2012

Nosso calvário de cada dia



Quanta gente não estará agorinha mesmo viajando para Nova Jerusalém, a fim de assistir ao espetáculo da Paixão de Cristo?


O mesmo tema foi tratado e retratado em "trocentas" montagens teatrais fora daquele cenário do agreste brasileiro e em um número de películas talvez maior ainda.


Já não sei mais o que é pior: a distorção da alegria pela atual "muvuca carnavalesca", ou a banalização da dor de Jesus pela simplificação teatral de espetáculos quase tão rentáveis quanto a folia momesca.


E haja ketchup por debaixo da coroa de espinhos e molho de tomate brotando dos punhos e palmas das mãos dos protagonistas dessa "maior história do universo"!


Será que era só dor física que Jesus Cristo sentiu entre ser preso no monte de oliveiras e a morte na cruz?

E a dor moral? Onde a dor moral fica nisso tudo? Não havia um cálice cheiinho de dor moral nessa história?


Assistindo às encenações da Paixão de Cristo, o que se vê é um exagero de dor físcia violência e brutalidade, enquanto a dor moral é varrida por debaixo daquela passadeira vermelha onde pisa o Pontius Pilatos.

Explorar o lado sado-maso, sadista e masoquista desse espetáculo me parece cair facilmente no gosto do povão.

Compreender dor moral, principalmente a dor moral alheia, exige certo senso de justiça e solidariedade, além de meia dúzia de neurónios.


Para jogar os holofotes nessa dor moral poderiamos começar a mostrar o pescado consumido na Semana Santa, enquanto um representante do Greenpeace falasse das espécies de peixes ameaçados de extinção por causa da pesca predatória mares afora... com frotas de navios pesqueiros no fundo, cujos donos e comandantes não estão nem aí para o futuro da humanidade e dos oceanos sem peixes.

Para jogar os holofotes nessa dor moral .poderíamos desviar o caminho para Nova Jerusalém e dar uma passadinha num lugarejo bem seco daquelas plagas espinhentas do Nordeste e ver mulheres com as panelas vazias, crianças com olhos e bocas de fome, enquanto lavradores, depois de ter preparado a terra para o plantio e semeado, usando os últimos grãos que poderiam amainar a fome dos filhos, espera em vão pela chuva.


Ora, até o nosso quotidiano urbano nos presenteia com tantos exemplos de dor moral, que parece haver nenhuma necessidade de viajar para Nova Jerusalém!


Existe dor moral pior do que ver, perceber e assitir pela televisão diariamente que Barrabás continua sendo mais popular do que Jesus Cristo?


Boa Páscoa


Reinhard Lackinger

Sentindo a cada dia uma dor moral "retada" vendo a Barra sendo negligenciada e destruida!

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