segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Devaneios do taverneiro austríaco











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Na minha infância vivia com os meus pais e meu irmão numa pacata cidadezinha industrial nos alpes austríacos.
A vida fazia sentido!
As pessoas iam para o trabalho no gigantesco complexo industrial, ou voltavam de lá.
Rotina que se repetia a cada 8 horas, sem falar do turno administrativo e dasdemais atividades, a depender da hora do dia, da noite e da época do ano.
Eventuais transgressões eram pontuais e se limitavam a dois ou três bares, onde se reunia gente simples com a autoestima ligeiramente prejudicada.
Incidentes que exigiam a presença da polícia eram tão raros que posso contá-los comos dedos da minha mão esquerda... e ainda sobra dedo...
Poluição sonora, só os sinos da igreja informando o enterro de uma pessoa.
O trem, que passava a uns trinta metros de minha cama, não chegou a tirar o meu sono.
Era um barulho repentino e violento. Mesmo assim não assustava.
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Penso que tudo aquilo que captamos com os nossos sentidos como sendo normal e rotineiro, o nosso cérebro percebe como algo que não nos ameaça.
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Atualmente moro a poucos metros da Av. Princesa Isabel e um ponto de ônibus.
Nenhum barulho natural - de carro com descarga em ordem, freios e portas pneumáticas de ônibos e o burburinho normal da Rua 8 de Dezembro - me tira o sono.
Há barulho sim, mas até então, nada ameaçador!
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Porém... chegando num cafundô da Alemanha, na Suiça ou da Áustria, já me aconteceu de eu acordar no meio da madrugada com a noite ainda fechada.
Não era nenhum ruído que tenha me tirado o sono e sim a absoluta ausência de barulho.
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Certa feita, um político carioca, depois de se transferir para Brasília, se queixou da ausência de barulho na capital federal.
Nós, da Associação Anti poluição Sonora de Salvador preparamos uma fita de áudio combarulhos da cidade grande e mandamos para ele...
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Com outras palavras... o meu cérebro não se importa com estímulos corriqueiros!
A luz de alerta só começa a piscar e me faz despertar, quando estou diante de algum estímulo fora do comum... tipo assim... quando algum "feladaputa" acionar a buzina de carro ou o vendedor de pão meter a mão na "vuvuzela" poderosa.. que todo mundo ouve... menos os fiscais um tanto surdos da SUCON.
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Será que essa teoria também vale para a aparência e para o comportamento das pessoas?
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Será que há quem fique com o pé atrás com pessoas, que não andam trajadas de acordo com a ocasião, não usam "black tie", nem exibem aquela samambaia loira segundo a última moda dos penteados?
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Será que há quem fique com o pé atrás com pessoas. que não se comportam de acordo com as normas da sociedade, da corte do rei, das pessoas de bem de família?
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Numa sociedade heterogênea, com um povo híbrido e economicamente desigual, é fácil a gente se deparar com quem "não é espelho", sendo permanentemente obrigado a negociar cada metro quadrado de espaço físico.
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Em sociedades como a da Áustria, o pisca alerta pode ficar desligado, as pessoas desarmadas, vivendo com as portas destrancadas e as janelas abertas.
O preço disso: o tédio!
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A bem da verdade, com a abertura das fronteiras e o afluxo de migrantes do leste europeu e arredores, a tranquilidade de outrora já era... O conto de fadas está acabando, sendo trocado pela necessidade de se relacionar com forasteiros, seguindo costumes e religiões diferentes... o que ao meu ver traz mais benefícios do que desvantagens.
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Quem sabe, convivendo com imigrantes de regiões pobres do planeta, a vida dos austríacos não volte a fazer sentido?

Um comentário:

  1. Pois é. A Barra já foi assim. Quando menino, morador do 13 da Alameda Antunes, acordava aos domingos com o sino da Igreja de Santo Antônio, convidando os fiéis para a Missa das seis e meia. Da casa de nº. 3, dos amigos Arruti, ouvia minha mãe chamar para o almoço. Além da potência da voz dessa contralto lírica, o silêncio permitia captar essas maravilhas que me deixam saudades. Revivi essas emoções em Kapfenberg, quanto estivemos juntos pela primeira vez em 1982. Como você bem descreveu no seu post.
    Haroldinho.

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