Para as pessoas da minha geração, que vivenciaram os anos duros da ditadura civil/militar, participaram das passeatas estudantis contra o regime, tomando porrada e inalando gás lacrimogêneo da polícia;
que eram vigiados nos seus colégios por agentes infiltrados passando-se por colegas;
que foram jubilados dos seus colégios e universidades ou demitidos dos seus empregos por participação em movimentos políticos defendendo o Estado de Direito e a Democracia;
que eram obrigados a comparecer uma vez por mês na Polícia Federal onde eram submetidos a um pequeno interrogatório que lhes dava o direito de renovar a “Carteira de Censura” (documento criado pela ditadura para que músicos e demais artistas pudessem trabalhar);
que tiveram suas obras censuradas de maneira ridícula e que antes da estréia de qualquer espetáculo, seja um show de música ou uma peça de teatro até mesmo infantil, tinham que fazer uma apresentação de todo o trabalho para meia dúzia de censores que, após o término dessa apresentação “particular”, autorizavam a sua exibição, muitas vezes impondo ressalvas;
que foram torturados ou perderam as suas vidas e/ou de seus familiares;
que saíram às ruas nas campanhas das “Diretas Já”, para resgatar o direito de escolher o nosso Presidente, direito esse cassado durante 25 anos;
que arriscaram os seus empregos, defendendo as nossas Estatais da roubalheira das privatizações, deixando de receber salário e férias, determinado pelo TST num julgamento político e cúmplice;
que mais recentemente saíram às ruas enfrentado mais uma vez a Polícia Militar, essa do então Governador da Bahia Paulo Souto, para pedir “Fora ACM”, depois que este foi flagrado violando o Painel de Votação do Senado e teve que renunciar covardemente para não ser cassado.
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Para essas pessoas, repito, é fácil entender o momento histórico pelo qual estamos passando hoje e quais os seus possíveis desdobramentos e os riscos que estamos correndo.
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Difícil para alguns jovens e outros não tão jovens, que “chegaram” e encontraram “tudo pronto”, não se interessaram em conhecer a história recente do seu País e não tiveram incentivos dos pais que, por razões “particulares”, não vivenciaram, muito menos ajudaram a construir essa história.
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Interpretar esse momento histórico pelo qual estamos passando é exigir demais daqueles que conheceram a Disney antes de conhecerem o interior seco e miserável do Ceará, onde adultos e crianças nos anos oitenta morriam na beira da estrada pedindo água aos motoristas que passavam, de conhecerem a beleza natural da Chapada Diamantina ou a dos Guimarães, de conhecerem o sertão da Bahia pessoalmente (pobre e riquíssimo em história) tampouco no Livro de Euclides da Cunha que nunca leram.
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É quase impossível para essas pessoas entenderem o significado da palavra retrocesso.
Elas, que tiveram oportunidade de estudar no Exterior e nada aprenderam sobe o seu País; que vão à Miami todo mês comprar enxoval ou fazer supermercado;
que não sabem quem foi Hélio Oiticica ou Glauber Rocha, Vladimir Herzog ou Carlos Lamarca; que não leram e/ou nunca ouviram falar do livro “Brasil Nunca Mais”;
que não sabem o significado real da palavra DEMOCRACIA;
que não sabem que não sabem, porque não lhes interessa saber, comem quantas vezes quiserem por dia, têm e sempre tiveram ajudas financeiras dos pais e avós, não precisam se preocupar, se o salário mínimo vai dar para alimentar a sua família (sabem o valor porque pagam, não porque recebem) e porque, seja quem for o próximo Presidente, pensam que a sua vida jamais será abalada, pois “todos são ladrões” e o seu automóvel é blindado”.
Haroldinho,
ResponderExcluirApesar da sua elegância nesta bela foto, eu queria parabenizá-lo é pela performace nesse processo eleitoral, divulgando junto à legião de leitores dos belos textos repassados ou da sua própria criação, exercendo assim o mais legítimo direito de cidadão, contribuindo para formar opinião sobre o exercício da política, seja como candidato ou eleitor.
Abraço
Edvar Fagundes Neves
gruss aus madeira, da spricht man auch portugiesisch ...
ResponderExcluirEu tive que escrever uma monografia sobre Adorno e outros pensadores da moda em 1975 para receber minha graduação em música pela EMAC/UFBA. Mas tive que esperar mais de um ano. O "Conselho" chegou à conclusão de que eu não era terrorista nem comunista. E por falar em Vladimir Herzog, o regime militar começou a cair por causa da versão mentirosa do suicídio. Como tal, o judeu Herzog não poderia ser enterrado em cemitério israelita. Foi aí que a coisa pegou. A pressão veio de fora, e com muita força. Quando é hoje, Ancelmo Gois escreve que a Confederação Israelita do Brasil ficou magoada por ter a presidenta Dilma Rousseff lembrado que os nazistas primeiro marcavam os judeus com uma cruz, e em seguida os mandavam para o holocausto. Eduardo Cunha, recebido com honras de chefe de estado pelo governo de Benjamin Netanyahu, é farinha do mesmo saco de Sérgio Moro, Gilmar Mendes, Aécio Neves, FHC, Michel Temer e demais golpistas, fascistas, nazistas.
ResponderExcluirUma dissecação (até leve... diría) do período sofrido do Brasil.
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