quarta-feira, 24 de março de 2010

uma boa resposta

Na última vez em que Carlos Belomonte,
vulgo Cacá Paulista, marido de uma prima,
esteve no Bistrô PortoSol, ele cogitava
aderir ao programa de demissão voluntária
na grande emrpesa em que trabalhava.

Terça feira passada, ele chegou, mediu com
os olhos serrados o bistrô sem clientes com
ar enigmático, colocou a pasta na cadeira,
apanhando um cardápio, puxando conversa.
Do cartão de visita, além do nome dele,
saltaram duas palavras: "Business Consulting".

Não havendo mais nenhuma dúvida quanto
às intenções dele, sentou-se, abriu a pasta,
colocando diante de si uns papéis e um palmtop.

- Qual é seu público alvo -?, perguntou,
sem esperar resposta. De cabeça baixa e
folheando o cardápio continuou:

- Há aquelas pessoas que frequentam
restaurantes finos, com comida pouca e cara,
com gente bonita nas mesas e um exército
de serviçais lambendo o chão por onde o
cliente passa.
Há aqueles que se sentem à vontade apenas no
mesmo local de sempre, numa pizzaria, numa
churrascaria, num restaurante com comida a peso.
Há quem afirme que a garotada tenha aderido à
febre da comida japonesa por comodismo.
A comida já vem aos bocados, e manejar hashi,
isto é, os pauzinhos, para muitos é mais fácil do
que comer elegantemente com garfo e faca...
Quem vem comer aqui na taverna de vocês?

Voltando a olhar em volta, reparando no local
vazio, fechou o cardápio, rescostou e disse:

- Sua proposta é inviável! Do jeito que você toca
essa sua taverna, você não vai a lugar algum.
Você precisa urgentemente do suporte técnico
do conselho de um especialista.
É verdade que bons conselhos são caros, porém...
insistir no erro pode ficar mais caro ainda...
Você exige que os seus clientes leiam e
interpretem o seu cardápio... que eles
entendam a descrição resumida de pratos
completamente estranhos.
Isso é tão utópico quanto querer que leiam
os seus e-mails, as suas crônicas.
Você nem ao menos tem um acrílico na porta
de sua taverna. Uma dessas placas luminosas
com propaganda de alguma bebida.
Quem passa, às vezes nem sabe que isto aqui
é uma taverna. -

Dois rapazes chegaram, ocupando uma das
mesasno passeio, pedindo linguição com
mostarda forte.

- A pouca clientela que você tem, fica presa à
mesmisse das salsichas. Poucos se aventuram,
querendo conhecer outros pratos.
Você deveria substituir todos esses cartazes de
cinema antigo que você tem na parede por
fotografias coloridas de seus pratos.
Igualzinho como fazem os restaurantes em praças
de alimentação em shopping centers -, disse
Cacá Paulista, tendo a preleção interrompida
outra vez com a chegada de clientes habitué...
mesa 5 para seis pessoas...

- Comida caseira como na casa da mãe!
Isso não é comercial. Trabalhar sem processador,
sem fritadeira, sem forno micro-ondas...
cortando tudo com a faquinha e cozinhar na
panelinha. Ninguém vai dar valor a isso.
Vocês têm que se modernizar!

Não pude dizer nem argumentar nada.
O pessoal que acabara de chegar exigiu a minha
atenção, pedindo lombo suíno à moda da casa
com puré demaçã mais ou menos picante,
prato medieval e carne suína defumada com
repolho roxo, batatas aceboladas e mostarda
forte...
Mesa 8, que nem vi chegar, quer que eu
demonstre como tirar chope da garrafa.
De repene estive tão atarefado que nem vi
quando Cacá Paulista foi embora.

Salvador 24 de março de 2010

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