Na última vez em que Carlos Belomonte, vulgo Cacá Paulista, marido de uma prima, esteve no Bistrô PortoSol, ele cogitava aderir ao programa de demissão voluntária na grande emrpesa em que trabalhava.
Terça feira passada, ele voltou, mediu com com ar enigmático o bistrô sem clientes, colocou a pasta na cadeira, apanhando um cardápio, puxando conversa.
Do cartão de visita, além do nome dele, saltaram duas palavras: "Business Consulting".
Não havendo mais nenhuma dúvida quanto às intenções dele, sentou-se, abriu a pasta, colocando diante de si uns papéis e um palmtop.
- Qual é seu público alvo -?, perguntou, sem esperar resposta.
De cabeça baixa e folheando o cardápio continuou:
- Há aquelas pessoas que frequentam restaurantes finos, com comida pouca e cara, com gente bonita nas mesas e um exército de serviçais lambendo o chão por onde o cliente passa.
Há aqueles que se sentem à vontade apenas no mesmo local de sempre, numa pizzaria, numa churrascaria, num restaurante com comida a peso.
Há quem afirme que a garotada tenha aderido à febre da comida japonesa por comodismo.
A comida já vem aos bocados, e manejar hashi, isto é, os pauzinhos, para muitos é mais fácil do que comer elegantemente com garfo e faca...
Quem vem comer aqui na taverna de vocês?
Voltando a olhar em volta, reparando no local vazio, fechou o cardápio, rescostou e disse:
- Sua proposta é inviável! Do jeito que você toca essa sua taverna, você não vai a lugar algum. Você precisa urgentemente do suporte técnico, do conselho de um especialista.
É verdade que bons conselhos são caros, porém... insistir no erro pode ficar bem mais caro...
Você exige que os seus clientes leiam e interpretem o seu cardápio... que eles entendam a descrição resumida de pratos completamente estranhos.
Isso é tão utópico quanto querer que leiam os seus e-mails, as suas crônicas.
Você nem ao menos tem um acrílico na porta de sua taverna. Uma dessas placas luminosas com propaganda de alguma bebida. Quem passa, às vezes nem sabe que isto aqui é uma taverna. -
Dois rapazes chegaram, ocupando uma das mesas no passeio, pedindo linguição com mostarda forte.
- A pouca clientela que você tem, fica presa à mesmice das salsichas.
Poucos se aventuram, querendo conhecer outros pratos.
Você deveria substituir todos esses cartazes de cinema antigo que você tem na parede por fotografias coloridas de seus pratos.
Igualzinho como fazem os restaurantes em praças de alimentação em shopping centers -, disse Cacá Paulista, tendo a preleção interrompida outra vez com a chegada de clientes habitué...
mesa 5 para seis pessoas...
- Comida caseira como na casa da mãe! Isso não é comercial. Trabalhar sem processador, sem fritadeira, sem forno micro-ondas... cortando tudo com a faquinha e cozinhar na panelinha. Ninguém vai dar valor a isso!
Vocês têm que se modernizar!
Não pude dizer nem argumentar nada. O pessoal que acabara de chegar exigiu a minha atenção, pedindo lombo suíno à moda da casa com puré de maçã mais ou menos picante, prato medieval e carne suína defumada com repolho roxo, batatas aceboladas e mostarda forte...
Mesa 8, que nem vi chegar, quer que eu demonstre como tirar chope da garrafa.
De repente estive tão atarrefado que nem vi quando Cacá Paulista foi embora.
Salvador 24 de março de 2010
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